O amor sonha com a pureza
sexo precisa do pecado
o amor é sonho dos solteiros
sexo é sonho dos casados
O amor tem jardim, cerca, projeto. O sexo invade tudo isso. Sexo é contra a lei. O amor depende de nosso desejo, é uma construção que criamos.
Sexo não depende de nosso desejo; nosso desejo é que é tomado por ele.
Ninguém se masturba por amor.
Ninguém sofre de tesão. O sexo é um desejo de apaziguar o amor. O amor é uma espécie de gratidão posteriori pelos prazeres do sexo.
O amor vem depois, o sexo vem antes. No amor, perdemos a cabeça, deliberadamente.
No sexo, a cabeça nos perde. O amor precisa do pensamento.
No sexo, o pensamento atrapalha; só as fantasias ajudam.
O amor sonha com uma grande redenção.
O sexo só pensa em proibições: não há fantasias permitidas.
O amor é um desejo de atingir a plenitude.
Sexo é o desejo de se satisfazer com a finitude.
O amor vive da impossibilidade sempre deslizante para a frente.
O sexo é um desejo de acabar com a impossibilidade.
O amor pode atrapalhar o sexo.
Já o contrrário não acontece.
Existe amor sem sexo, claro, mas nunca gozam juntos.
Amor é propriedade. sexo é posse.
Amor é a casa; sexo é invasão de domicílio.
Amor é o sonho por um romântico latifúndio; já o sexo é o MST.
O amor é mais narcisista, mesmo quando fala em “doação”.
Sexo é mais democrático, mesmo vivendo no egoísmo.
Amor e sexo são como a palavra farmakon em grego: remédio e veneno. Amor pode ser veneno ou remédio. Sexo também – tudo dependendo das posições adotadas.
Amor é um texto.
Sexo é um esporte. Amor não exige a presença do “outro”; o sexo, no mínimo, precisa de uma “mãozinha”. Certos amores nem precisam de parceiro; florescem até mas sozinhos, na solidão e na loucura. Sexo, não – é mais realista.
Nesse sentido, amor é uma busca de ilusão. Sexo é uma bruta vontade de verdade. Amor muitas vezes e uma masturbação. Seco, não.
O amor vem de dentro, o sexo vem de fora, o amor vem de nós e demora. O sexo vem dos outros e vai embora. Amor é bossa nova; sexo é carnaval.
Não somos vítimas do amor, só do sexo.
“O sexo é uma selva de epiléticos” ou “O amor, se não for eterno, não era amor”
O amor inventou a alma, a eternidade, a linguagem, a moral. O sexo inventou a moral também do lado de fora de sua jaula, onde ele ruge.
O amor tem algo de ridículo, de patético, principalmente nas grandes paixões.
O sexo é mais quieto, como um caubói – quando acaba a valentia, ele vem e come.
Eles dizem:
“Faça amor, não faça a guerra”. Sexo quer guerra.
O ódio mata o amor, mas o ódio pode acender o sexo.
Amor é egoísta; sexo é altruísta.
O amor quer superar a morte.
No sexo, a morte está ali, nas bocas... O amor fala muito.
O sexo grita, geme, ruge, mas não se explica.
O sexo sempre existiu – das cavernas do paraíso até as saunas relax for men.
Por outro lado, o amor foi inventado pelos poetas
Amor é literatura. Sexo é cinema.
Amor é prosa; sexo é poesia.
Amor é mulher; sexo é homem
O amor domado protege a produção.
Sexo selvagem é uma ameaça ao bom funcionamento do mercado.
Por isso, a única maneira de controla-lo é programa-lo, como faz a indústria das sacanagens.
O mercado programa nossas fantasias.
Não há saunas relax para o amor.
No entanto, em todo bordel, FINGE-SE UM “AMORZINHO” PARA INICIAR.
O amor está virando um “hors-d’oeuvre” para o sexo.
O amor busca uma certa “grandeza”.
O sexo sonha com as partes baixas.
O PERIGO DO SEXO É QUE VOCÊ PODE SE APAIXONAR. O PERIGO DO AMOR É VIRAR AMIZADE.
Com camisinha, há sexo seguro,
MAS NÃO HÁ CAMISINHA PARA O AMOR.
O amor sonha com a pureza.
Sexo precisa do pecado. Amor é o sonho dos solteiros.
Sexo, o sonho dos casados.
Sexo precisa da novidade, da surpresa.
"O grande amor só se sente no ciúme. O grande sexo sente-se como uma tomada de poder "